Um pouco sobre mim

 Quando comecei essa apresentação, ou pelo menos tentei começa-la, foi difícil sair do "Meu nome é Giovanna, eu tenho 17 anos e nasci na capital do estado de São Paulo.". O que eu, com a minha pouca idade e pouca vivência poderia contar que mostrasse minha identidade e as culturas englobadas nela?

    Bom, ainda não sei ao certo. Por isso, começarei com alguns fatos: sou filha única, sou a terceira da minha família a entrar em uma universidade, a sexta a terminar o ensino médio. Minha família não é muito unida. Não somos muito ligados as artes, talvez um pouco ao esporte (diria que esse pouco se reserva ao meu pai). Não nos reunimos sem que seja no Natal, e com sorte no Ano Novo. Não somos muito religiosos.

  Mas sei que, apesar disso, nunca comemos carne vermelha na sexta-feira santa.

  Também sei que à meia noite de todo dia 25/12, nós rezamos, e à meia noite de todo dia 01/01, também rezamos. Meus padrinhos são pastores. Sei que quando digo isso parece que somos religiosos e eu disse que não somos, esclareço que eles são a parte única da família que é, de fato, religiosa. É um momento bonito, a reza. Todos de mãos dadas, agradecendo pelo ano que tivemos, pedindo bênçãos para os que se foram, e àqueles que ficaram. Depois vem a emoção, as lágrimas. Realmente parecemos uma família. Mas acaba por aí. Durante o resto do ano eles brigam, mentem, ficam sem se falar por meses.

  Minha conclusão é que é difícil me conhecer pela minha família. É difícil definir minha identidade por eles. Ou pelo menos pela convencional.

  Minha família "próxima" (meus pais) ajudaram na construção da minha identidade. Não sei definir o que faz parte de uma cultura maior ou de tradições que passaram de geração em geração, mas o fato de ter sido algo criado por nós torna a tradição, talvez, ainda mais especial.

    Quando eu era pequena, tínhamos o costume de ir nadar. Não tinha piscina no prédio onde passei toda a minha infância, então íamos nas piscinas do Sesc. Toda sexta-feira meu pai me buscava na escola, comprava um lanchinho para mim na padaria que tinha perto, íamos buscar minha mãe e depois íamos nadar. Sempre gostei disso porque não passávamos muito tempo juntos durante a semana, mas aquele momento compensava.

  Também na mesma época, minha mãe gostava de ler comigo antes de dormir. Todos os tipos de histórias e livros. Ela deitava comigo e lia. Eu amo ler e hoje percebo que esse é um dos motivos.

    Há coisas que sei que vem deles. Meus pais não casaram na Igreja, e eu também não tenho vontade. Meus pais adoram viajar, e eu também. Minha mãe é formada em Serviço Social, e eu sigo na área de humanas. Meu pai é um romântico incurável, de certa forma eu também sou. E muitos outros exemplos.

  Outra forma de tentar me conhecer seria através de meus amigos, ou de um amigo específico. E talvez ele teve mais participação na minha formação como pessoa do que qualquer membro da minha família.

    Conheci ele no quarto ano, 2014. Tinha acabado de mudar de escola. Essa mudança foi radical para mim. Eu costumava estudar numa escola com 13 alunos por sala, uma sala por série. Mudei para uma escola com 30 alunos por sala, três salas por série. Eu estava com medo de não ser acolhida, eu estava com medo da multidão de pessoas, eu estava com medo.

  Me colocaram para sentar na frente dele e ele se tornou meu melhor amigo desde então. Costumávamos fazer absolutamente tudo juntos e nós crescemos e moldamos nossa personalidade assim. Ele ajudou a moldar a pessoa que sou hoje.

  Com ele fui no meu primeiro show. Um dos momentos que me fez perceber o quanto eu amo música, se não O momento. Todas aquelas pessoas gritando, dançando, vivendo. Nunca tinha me sentido tão viva. Foi com ele o momento em que me senti viva pela primeira vez

  E foi com ele que me senti morta pela primeira vez. Meu melhor amigo faleceu ano passado. Gostaria de não entrar em detalhes sobre o que aconteceu de fato, e não vou, mas aconteceu. Eu nunca tinha sentido tamanha tristeza. Isso também me mudou. E isso marca quem eu sou porque por algum tempo fiquei me perguntando quem sou eu sem ele.

  Descobri que continuo sendo eu, pois ele continua aqui. De alguma forma que ainda não sei explicar e que não achei resposta em nenhuma religião que conheço. Mas sei que ele continua em mim, e que ele é parte de quem eu sou.

  Sei que estou na UFABC porque esse era um sonho nosso. Sei que minha série preferida também era a dele. Sei que tenho muitas opiniões porque eram as dele também. E sei que continuo pensando "que conselho ele me daria nessa situação?".

  Espero que com tudo isso, alguma ideia de quem eu sou tenha sido criada. Ideia porque sabemos que essa é só uma parte que decidi nesse momento contar.

Comentários